TL;DR Se você não quiser gastar tempo e / ou energia adicionais, uma introdução muito mais relevante (e citada mais adiante, nesta mesma postagem) é dada pelo texto The Cathedral and the Bazaar, por Eric S. Raymond.

Um (não tão) breve comentário sobre a filosofia por trás dos projetos de software de código livre e aberto. Detalhe sobre o contexto: o texto é, originalmente, uma postagem no fórum da disciplina de Seminários em Gerenciamento de Dados e Informação (aka Tecnologia, Lei e Sociedade ou Tecnologia e Convivência) e é datado de 11 de Março de 2014 (há uma semana).

Fiz alusão às ideias de Yochai Benkler em meu comentário no tópico de Sharing Economy, mencionando como alguns dos temas abordados no contexto da disciplina se relacionam (a saber, Tecnologias Cívicas, Open Data, Sharing Economy e Transparência na Era Digital – que foram os assuntos abordados por mim, Flávio, Augusto e Renato em nosso vídeo-debate).

Não é de se admirar que, além desses que citei, outros tópicos também tenham conexões entre si – já que pertencem à macro-categoria de Tecnologia, Lei e Sociedade, que dá nome à disciplina. Os pensamentos defendidos por Yochai carregam, além de vários outros, fundamentos do crowdsourcing – que é, também, tópico de uma das sessões.

Em suas obras, o ser senciente logra êxito ao desbravar o até então pouco conhecido mundo cibernético – que em muito se baseia em protocolos abertos de livre utilização / modificação e construção colaborativa através do esforço de milhares de pessoas de todo o planeta. Em seu livro de 2006, O Pinguim e o Leviatã, Benkler utiliza o mais patente caso de como a colaboração espontânea e altruísta pode se sobrepor aos interesses individuais egocentristas e, assim, construir melhores equipes, software, protocolos e, de maneira bastante ampla, tecnologias em geral.

O exemplo que inspira a capa do livro é só um de tantos outros projetos livres e de código aberto que abriram precedente para a discussão acerca da dicotomia de um modelo de desenvolvimento de software realizado por alguns poucos peritos e outro – assaz divergente – em que o código é construído colaborativamente por pessoas de todos os lugares que possivelmente nem ao menos se conhecem.

Quem teve a oportunidade de assistir às aulas da disciplina de FLOSS (Free and Open Source Software), ministrada pelo professor Fernando Castor, já sabe do que estou tratando. A divergência entre esses modelos dotados de características diametralmente opostas se tornou de conhecimento público principalmente após a publicação do artigo The Cathedral and the Baazar, por Eric S. Raymond (também conhecido por suas iniciais, ESR).

Em seu texto, ESR expõe sua opinião a respeito de como o Linux conseguiu aquilo que todos (inclusive ele próprio) supunham inalcançável: construir algo tão complexo quanto um sistema operacional através da colaboração, em um projeto que aparentemente não dispunha de uma gestão adequada – gestão tal que seria impossível devido às condições de execução. O autor também publica mais frequentemente em seu blog e, nesta sessão de perguntas e respostas (datada de ontem), ele responde a vários questionamentos pertinentes ao tema – inclusive o que mudou depois de quase 20 anos da publicação do The Cathedral and the Baazar.

Trazendo as ideias e ideais expostos por ESR e defendidos por Benkler para o nosso contexto, dois colegas do Centro de Informática publicaram, há pouco tempo, um estudo sobre o desenvolvimento de projetos de código aberto e afins no Brasil – no trabalho intitulado The Census of the Brazilian Open-Source Community, por Gustavo Pinto e Fernando Kamei.

O tópico dá margem para uma discussão prolífica e projetos FLOSS são, por si só, um assunto ainda a ser amplamente estudado e adotado pelos alunos do centro. O envolvimento com um projeto grande desse tipo é uma ótima oportunidade de adquirir habilidades pessoais e profissionais nas mais diversas áreas. Indico a disciplina de Desenvolvimento de de Software de Código Aberto/Livre (FLOSS, ministrada por Castor) que, inclusive, foi palco para uma das palestras do professor Ruy sobre as ideias de Yochai Benkler na edição em que paguei a disciplina.